O grande escritor cubano foi ao Congo por 15 dias e trouxe uma reportagem sensível: nunca viu tanta pobreza! É comum que, na América Latina e na Europa, a pobreza de certos países não seja realmente conhecida, não passando de um lugar-comum que se repete automaticamente. Quando se deparam com a realidade, sendo minimamente honestos, reagem assim.
Até aí tudo bem. O pior é a explicação: "la gestión colonial deshizo el país, destruyó su estructura. Y ahora Congo yace sin un Estado, dividido en pequeñas regiones controladas por caudillos, facciones y bandas. Hay 10 o 20 guerras a la vez".
Passando por cima dos conflitos pós-independência, da gestão de Mobutu (que, no seu declínio sobretudo, conduziu o país ao caos em que se encontra) e sobre o próprio facto de se tratar do mais artificial dos países africanos, com uma extensão difícil de gerir e uma base populacional sem nada em comum, o escritor peruano encontra a razão que o mesmo 'blá-blá' na Europa e América Latina arranja para todos os males de África: o colonialismo.
Ora o colonialismo europeu, como todo o colonialismo, fez muito mal a África, sem dúvida. Um mal, de resto, foi mesmo ter-se criado esse país em torno de uma colónia desenhada sobre a ignorância e o espírito de rapina. Dizer, porém, o que diz Llosa é, no mínimo, um anacronismo: pura e simplesmente o país não existia antes do colonialismo, portanto o regime colonial não podia ter desfeito o que não existia. O drama do Congo merecia melhor atenção e menos precipitação, que fica mal a um homem daquela estatura.