Jean-Marie Le Pen disse uma vez (ou mais de uma vez) que "a política é a definição do inimigo". É a definição típica do guerreiro, mas também do ditador - porque resume a política à perseguição do rival e o rival ao 'inimigo'.
O problema de grande parte das revoltas árabes, que baralha completamente o esquema repressor das ditaduras, é a dificuldade em definir o inimigo. A internet, as novas formas de comunicação e socialização a partir dos avanços da informática e das novas tecnologias, tornam-se assim o tormento do poder em muitos países. Não tanto por darem voz a muitos mas por uma consequência disso: a dispersão das vozes, a sua imprevisibilidade e a sua variedade.
O problema do ditador é o medo. É pelo medo que ele constrói a ditadura, porque é o que ele melhor conhece. Mas o domínio, por mais absoluto, não domina o medo. Na verdade, poucas vezes se sabe ou prevê como um regime vai acabar - mas sabe-se que termina.
A sociedade aberta reflete a aceitação disso, de que a mudança é imprevisível e certeira, portanto, devemos estar preparados para recebê-la e lidar com ela. A sociedade fechada tenta descobrir os nichos da mudança 'perigosa', inimiga. Só destruindo-os todos o medo passaria. Mas nunca se destroem todos e os ditadores, no fundo, sabem disso - até porque sabem o quanto o 'acaso', ou o não planeado, os ajudaram a subir ao poder em certa altura.
O medo que sentem será uma das causas da sua queda. Não sabendo como lidar com a abertura, a dispersão e o anonimato trazidos pelas novas redes sociais e pelas novas formas de comunicação, os regimes ditatoriais desesperam e disparam para todos os lados sem atingir o 'inimigo'.
O verdadeiro inimigo, porém, é o medo.