O MPLA investiu bastante no enfraquecimento da oposição e pelas mais diversas vias, algumas bastante ínvias. O que parece, por vezes, é que não era necessário.
O grupo mais acutilante, o do Bloco Democrático, não tem votação significativa.
A CASA-CE prometia muito, cumpriu alguma expectativa, mas está amarrada a um mal de nascença - o de ser uma manta de retalhos. Dessa manta saem vozes luminosas, como aquela que defende que a desvalorização da moeda nacional, ou a liberalização limitada do câmbio que foi a decisão final, devia ser tratada em segredo para evitar alguns efeitos negativos. O que é o mesmo que 'tapar o sol com a peneira' e favorecer os que sabem das decisões antes e podem especular por antecipação. Acho que, pelo contrário, a oposição devia promover um debate mais aberto e sério sobre o assunto, criticando o governo por não estar a levar em conta a opinião pública, nem consultar especialista que não pertençam nem ao governo nem ao MPLA.
A UNITA enreda-se de novo na hesitação entre um espírito amplamente democrático e soluções de aldeia que não se ajustam à realidade angolana atual - e ainda bem que não. Por exemplo, Samakuva acredita ainda que leis proibitivas resolvam profundos problemas sociais, pessoais e morais. Extraio do Novo jornal de hoje:
Samakuva quer medidas contra a venda de álcool
O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, sustentou esta semana, na província do Bié, a necessidade do reforço das medidas de fiscalização da venda de bebidas alcoólicas e drogas, no sentido de se combater problemas sociais. Segundo a Angop, o líder do maior partido da oposição pediu ao Executivo que implemente medidas rigorosas em termos de aquisição de bebidas alcoólicas e outros produtos com vista a preservar a juventude, já que “ela está a enveredar por este caminho desastroso”, disse.Numa sociedade que se quer cada vez mais livre, o chefe da oposição vem dizer-nos que a solução para os problemas dos jovens é proibir. Não propôs ações preventivas. Acreditar no efeito de uma proibição (ou de "medidas rigorosas") é ingenuidade política: as leis e os regulamentos desmultiplicam-se ao mesmo tempo que as manhas e subterfúgios para lhes fugir ou para contorná-las. Mesmo em países em que as bebidas alcoólicas são combatidas assim há séculos, elas existem e consomem-se, portanto as "medidas rigorosas" não resolveram o problema de base, que é o da preparação dos jovens para o mundo adulto, cheio de minas e armadilhas.
Em tempos - e perante o mau estado das estradas arranjadas havia pouco - Kamalata Numa (um estratega militar extraordinário) defendia que devíamos implementar uma solução antiga da Namíbia, apostando em boas estradas não asfaltadas. Em vez de exigir a fiscalização desses contratos pela oposição, para que se visse se houve corrupção ou ineficácia do governo, ele propunha não gastar dinheiro no asfalto... Em outra declaração, de laivos populistas evidentes, afirmava a sua preferência por passar férias na sua aldeia. Concerteza que tem razão, nada mais saudável. Mas isso não é solução para o problema do turismo em Angola e, se fôssemos todos passar férias nas nossas aldeias de origem (os que são originários dos kimbos e sanzalas) íamos estragar rapidamente aquele ambiente levando para lá os vícios e defeitos de citadinos sem educação ambiental...
A FNLA continua a infindável novela da sua desagregação interior e não resolve queixarmo-nos de que os governos e tribunais anteriores contribuíram para isso. O problema é mesmo interno, de intolerância, de total ausência de mentalidade democrática e de sentido de disciplina. Ngola Kabangu perdeu a batalha que travou, com razão ou sem ela. Não tem escolha: ou cria outra FNLA, que afirma como verdadeira, ou aceita e luta por novas eleições internas transparentes, abertas, em plena liberdade militante. Recusar-se a entregar os bens é raptar um bem do partido para fazer uma 'birra'. Que moral tem para depois governar o partido e a nação?
O que todos esses comportamentos demonstram é que o esforço do MPLA para neutralizar a oposição, infelizmente, nem era necessário. A oposição tem mostrado, nas mais diversas manifestações, que não está à altura das responsabilidades que exige a formação de um governo e a eleição para a presidência.
No conjunto, nenhum desses partidos (exceto, mais uma vez, o Bloco) se tem mostrado capaz de construir uma oposição lúcida às promessas e à esperança trazidas pelos primeiros meses de atuação do novo Presidente da República - explorando as contradições a que está sujeito, a não execução de algumas das suas diretivas, o excesso de voluntarismo e não fundamentação pública de algumas decisões (falo de argumentos que uma retórica de oposição podia explorar com vantagem, não estou a tomar posição sobre o assunto).
Estes meses da nova presidência têm sido, apesar de tudo, incomparavelmente superiores aos anos da compridíssima governação anterior, em qualquer das suas fases e sobretudo na última, já para não falar da atuação destrutiva e desleal do ex-presidente. Mas foram meses de perfeita governação, nem têm condições para ser, com a estratégia de 'terra queimada' conduzida pelo ex-titular e os anteriores oligarcas, verdadeiros sobas da corrupção. Nem por isso os opositores aproveitam a brecha com eficácia.
A oposição continua a ser o melhor argumento contra si própria. Para a saúde e melhoria da democracia angolana, ela tem que mudar e melhorar.