sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Kangamba processa Portugal e Brasil


Bento Kangamba não tem boa imagem na maioria dos países onde se ouve (ou lê) o seu nome, incluindo Angola. A sua imagem devia ter sido melhor gerida por ele próprio e pelos que se dizem seus amigos. Ele, porém, fê-la pensando num meio popular em que as suas atitudes eram, muitas vezes, aplaudidas. Algumas das afirmações chocarreiras que 'mandava' para o 'espaço público' motivavam o riso da 'alta cultura', mas recolhiam o aplauso da 'cultura popular'. Podemos exemplificar com as danças e os feiticeiros a que recorria nas deslocações do seu clube de futebol: atraíam 'o povo', que se identificava com essas práticas, e criavam repulsa no 'intelectuais', que as achavam despropositadas. Ou com o famoso avião privado, que era um perigo para a aviação: todos o sabemos, ainda hoje, em Angola, ter um avião privado é digno de um presidente, um empresário com avião privado sobe imediatamente na apreciação do 'povo'. Acho mesmo que não só em Angola...

A notícia que motiva esta nota (v. hiperligação no fim), bem redigida e organizada, se calhar é tendenciosa quando afirma que o general é sobrinho de José Eduardo dos Santos. O que li, na imprensa angolana sobretudo, é que Bento Kangamba (oriundo das Lundas - de onde os negócios de diamantes, associados à carreira nas Forças Armadas) se casou com uma sobrinha do ex-presidente. É, portanto, sobrinho 'por afinidade'. 

Mas o que o general anuncia na entrevista mostra que ele, finalmente, compreendeu o jogo internacional onde se viu envolvido, com ou sem razão (o facto de a acusação brasileira não ter dado provas suficientes não implica a sua inexistência). Não precisou, como Manuel Vicente, de usar o Estado angolano para se defender. Defendeu-se com autonomia, do seu dinheiro pagando aos seus advogados os honorários legais. Assim conseguiu driblar as acusações jogando o jogo da justiça dos respetivos países. Agora pode, finalmente, colocar-se na posição de vítima e não vacila, contra-ataca dando o seu próprio caso como argumento. Desta forma, desprestigia mais a justiça 'estrangeira', a portuguesa ou a brasileira, do que o Ministro das Relações Exteriores angolano, com as suas ameaças e os seus sofismas arrogantes, próprios de qualquer ditadura corrupta quando investigada por instâncias internacionais, tentando a cartada do populismo para um povo que não o identifica nem o integra como faz com a imagem de Bento Kangamba, afinal bem mais esperto (palavra que, para mim, não tem conotação negativa).



Justiça - General angolano processa Portugal e Brasil:



'via Blog this'