No meio de tantas turbulências e mudanças o julgamento do primeiro-ministro da Islândia passa despercebido, mas é um facto importante para a credibilidade do sistema democrático e, mesmo, partidário.
Geeir H. Haarde, que era o chefe do governo em 2008, quando se deu a crise bancária que obrigou os islandeses a recorrer ao FMI, não deu nenhuma importância aos repetidos avisos que lhe foram feitos. Inclusivé o próprio Banco Nacional alertara para a necessidade de se tomarem medidas e Haarde nada fez, comodamente continuou sentado na fofa cadeira do poder.
A incompetência constante, recorrente, sistemática dos políticos partidários europeus tem vindo a prejudicar mais a Europa do que os imigrantes, os emigrantes e, mesmo, os ditadores do norte de África...
O sistema partidário gera líderes como quem gera cápsulas de garrafas e eles para pouco mais servem do que para aguentar a pressão dentro dos limites de vidro grosso. Uma impunidade permanente os rodeia. Nunca são obrigados a dar conta da má gestão que fazem dos países, das promessas que não cumprem, da contradição entre o discurso eleitoral e, desde logo, o discurso de posse.
Na Islândia, por exemplo, foi criado com o país um tribunal para julgar governantes, o Landsdómur. Nos quase 67 anos de independência do país o tribunal nunca reuniu...
Como, no entanto, a estrutura existia, foi só ativá-la e agora vemos o fofo primeiro-ministro na barra do Tribunal - onde se vai defender tentando trocar vírgulas mal colocadas pela acusação por uma impunidade real, injustificável, ilegítima.
Seria bom que, na construção da democracia angolana e do seu edifício jurídico, se criasse um Tribunal especificamente para julgar os governantes - quer por corrupção, quer por incompetência, má gestão, gestão perdulária, etc. E que os governantes, aqui como em todo o mundo, assumissem (mesmo juridicamente) os programas eleitorais como contratos de prestação de serviços que, uma vez não prestados, obrigam à criminalização da gestão política.