domingo, 12 de junho de 2011

coligação anti-democrática


Faz hoje dois anos que eleições fraudulentas no Irão deram maioria esmagadora ao atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad. A repressão sangrenta que se seguiu às manifestações populares, que denunciavam a fraude perguntando 'onde está o meu voto?', mostrou que não há democraticidade nenhuma no atual Irão, mas uma farsa de mau gosto onde a simulação de existência de oposição serve apenas para avisar os incautos sobre os perigos de se oporem.

Conhecemos isso de há muitos anos e em muitos países - por exemplo na Angola do tempo de Salazar. Hoje mesmo foi posto a circular nas televisões o testemunho de um soldado sírio desertor que veio confirmar o que já sabíamos: que os iranianos e o 'Partido de Deus' libanês ajudam a esmagar a revolta popular pedindo liberdade e democracia. O Hezbollah paga o apoio que tem recebido da Síria. O Irão tem o prémio pelo sucesso na repressão aos seus oposicionistas. A Síria, um país onde até há pouco tempo algumas minorias não tinham sequer direito de cidadania, recolhe os frutos dos apoios que tem dado a grupos ditatoriais entre países vizinhos. Ditatoriais e xiitas. Porque o clã do presidente é xiita - num país de ampla maioria sunita. O pai do presidente e o partido no poder foram mais inteligentes: instalaram um regime laico, para que a maioria religiosa não fosse politicamente invocada. O mesmo fez o mesmo partido no Iraque, antes e durante o regime de Saddam Hussein. Tal como no Iraque (onde a maioria era xiita e a minoria sunita - embora uma minoria de cerca de 30%), em desespero de causa o regime totalitário do partido Ba'ath (o mesmo do Iraque na versão síria) joga a cartada religiosa para tentar sobreviver. 

O cinismo de alguns países na arena internacional levanta-se mais uma vez e muitos grupos de esquerda agitam a bandeira do anti-imperialismo para evitar que a ONU denuncie a sangrenta repressão levada a cabo pelos sírios. O que está em causa não é a luta contra o imperialismo, mas a luta pela liberdade em países profundamente injustos, autocráticos, repressivos e oligárquicos. 

O mesmo se passa com a Líbia. Não foram os imperialistas que inventaram a revolta na Líbia, foram os próprios líbios, que estavam fartos das farsas do coronel, sustentadas à custa de prisões, torturas, mortes e outras medidas típicas de países ditatoriais. Se o imperialismo norte-americano aproveitou a oportunidade, fez muito bem. Se todos aproveitássemos para denunciar e combater mais essas ditaduras, todos teríamos moralidade para reclamar depois a amizade dos sírios e dos líbios. 

Mas não é inocente o apoio (ou as reservas à denúncia) por parte de países como a Venezuela (onde o ditador Chávez impôs reformas rejeitadas em referendo), a Rússia (onde o ditador Putin reprime a oposição cada vez mais descaradamente), a China (que tem levado a cabo séries sangrentas de repressão política), a Bolívia (que tenta implantar no seu território uma ditadura marxista e dá abrigo às FARC como a Venezuela), e um disseminado etc. que reúne vários países com índices sofríveis de democracia, quando não claramente ditatoriais. 

No meio disto, não se compreende a posição do nosso MRE sobre a Líbia. Deu azo a um verdadeiro puxão de orelhas por parte do representante da União Europeia em Luanda. Sem necessidade nenhuma. E o que tinha antes defendido a política externa angolana? Laurent Gbagbo...