sexta-feira, 6 de abril de 2018

Protestos em Malanje não reflectem carácter dos malanjinos, diz Bornito de Sousa



Não é a primeira vez que Bornito de Sousa dá sinal de estar nos antípodas do seu Presidente. Refiro-me a práticas e declarações que lembram mais os tempos de JES. O ex-presidente parece querer reciclar a sua imagem pública, pelo menos a julgar pelo que escreveu sobre Jaka Jamba. O Vice-Presidente não faz o mesmo. 



É claro que as arruaças não são de louvar, apenas manifestações ordeiras e pacíficas. Mas é claro, também, que a população ficou definitivamente farta do poder e sem medo para protestar. Desesperando do que vem sendo feito em nome da lei, há tantos anos, e na realidade fora da lei a maioria das vezes, à socapa, as pessoas mais lesadas protestam e perdem o controlo, até porque são acicatadas para isso... 



Mas as declarações de Bornito de Sousa foram sintomáticas: o protesto "não reflecte o carácter dos malanjinos". Os malanjinos que protestaram chamando 'gatuno' ao governador e pedindo ao Vice-Presidente que o levasse para Luanda, não são típicos de... malanjinos! Estes são "patrióticos"! O que significa, no caso, ser patriótico, se os que protestaram estavam a defender os seus próprios meios de vida na cidade de Malanje? Significa não protestar? Como nos tempos do partido único? 



Diz o Vice-Presidente que "o povo de Malanje" (pelos vistos não foi o povo quem protestou...) é "participativo". Essa manifestação, por mais que ele não queira, deu mostras de duas coisas: de que esse povo é realmente participativo e de que ele não tem como nem onde participar, além das ruas e das arruaças - e, mesmo assim, sofrerá as consequências... 



A transição que se vive em Angola será lenta, porque as mentalidades não se mudam do dia para a noite, sabemos isso. Mas quem está no segundo lugar da hierarquia do Estado, como Vice de um Presidente que procura simbolizar e praticar a mudança, não pode limitar-se a repetir os argumentos cínicos do passado. Isso mostra que ele não está à altura da mudança que se exige. 





Protestos em Malanje não reflectem carácter dos malanjinos, diz Bornito de Sousa