O alinhamento total de João Lourenço com a liderança de Isabel dos Santos na Sonangol:
"Isabel dos Santos salientou que o novo Chefe de Estado está "completamente por dentro" dos seus planos de reestruturação da companhia estatal e lembrou que os mesmos foram apresentados ao anterior Governo, do qual o actual Presidente também fazia parte.
Por isso, reforçou a presidente do conselho de administração da Sonangol, João Lourenço está completamente a par da transformação da petrolífera e da sua visão."
A boa análise política tem por base a boa análise crítica. O título da notícia indica um "alinhamento total" do novo Presidente com a filha do antigo, sem mencionar que se trata de declarações de Isabel dos Santos, o que se diz só a seguir, a meio do lead ou cabeça da notícia.
O começo da notícia recorda-nos os sinais em contrário, que levam a desconfiar das afirmações de Isabel dos Santos. Vamos lendo a matéria sem nenhuma prova concludente de alinhamento e, já perto do fim, surge essa citação (acima). Percebemos então que o novo Presidente está a par de tudo porque fazia parte do anterior governo, ao qual os planos de reestruturação da SONANGOL foram apresentados. Não porque se tenham reunido e ele tenha dito que está de acordo.
O título fiel à matéria seria, portanto, diferente. Porque, na verdade, o que se passou foi que Isabel dos Santos, em reunião internacional na qual precisava de sossegar os investidores, alegou que João Lourenço não podia negar que não conhece os planos e, se não os rejeitou nem comentou negativamente conhecendo-os, é porque está de acordo: "quem cala consente".
A atitude de Isabel dos Santos denota, portanto, uma grande fragilidade da sua parte e uma tentativa de encostar à parede o novo Presidente - apesar da situação em que ela está. Confiante no poder que o pai tem no MPLA ainda, prefere forçar João Lourenço a publicamente solidarizar-se com a sua gestão e o seu plano, tornando-o assim, aparentemente, refém de si próprio e não do ex-presidente.
Refém de si próprio e cúmplice do que ela estará a fazer - de bem ou de mal, não sei.