sexta-feira, 5 de abril de 2019

medalhões


A visita à Rússia do presidente João Lourenço era de esperar: por laços históricos anteriores e até agora mantidos; por laços pessoais anteriores e, quiçá, gratos; por aquilo que parece ser uma herança nas relações externas e se vai constituindo traço da diplomacia angolana: evitar alinhamentos extremos, feudais ou fanáticos (exceto algum excesso no início do partido único), ir jogando com 'um pau de dois bicos', mas até de vários bicos. 

Este último traço é louvável, parece-me. Para já, realista, pragmático e deixando em aberto, o mais possível, o leque de relações e do seu aprofundamento. A política externa salazarista foi essa e parece ter deixado marcas. Mas é um traço mais geral e Angola tem isso em comum, não só com o Portugal de hoje (muitas vezes, por força de acordos europeus, muito mais alinhado que Angola) e com o Brasil até 2018. Justamente no Brasil, as primeiras tentativas de abandonar essa política de equilíbrios diplomáticos consensuais deram mau resultado: opinião pública desfavorável, opinião internacional desfavorável e vastos setores fundamentais da vida social, económica, cívica e militar desapontados, mais do que isso, fazendo pressão para (no mínimo) moderar a 'viragem'.

Muitos países frágeis, ou não muito fortes internacionalmente, seguem essa estratégia diplomática também. Isso contribui, certamente, para a paz no mundo. Aplauso, portanto, para o presidente João Lourenço, que tem sabido aproveitar vantagens dos EUA e da Rússia. 

O que não me surpreende mas continua a chocar-me é a desvalorização total das condecorações. Isso também não constitui exclusivo de Angola, nem na lusofonia, nem no mundo. Cada vez mais o facto de se ser condecorado se tornou meramente decorativo, quando muito protocolar. E, se não, veja-se:

O que fez Putin por Angola desde que está no poder? Eu não consigo ver nada relevante na sua política externa que suscite aplauso ou consenso para a sua condecoração. O que significa ela, então? Mera troca de galhardetes, flâmulas, bandeirolas.