terça-feira, 28 de março de 2017

parece-me razoável, equilibrado e sensato:


CARTA À NAÇÃO

Caros Cidadãos

É urgente encontrar uma saída à altura dos desafios que Angola enfrenta. Acreditamos que é chegada a hora de promover a criação de uma plataforma social alargada, capaz de congregar os interesses de todas as franjas marginalizadas e excluídas do pleno exercício da cidadania.

Os angolanos vivem uma situação dramática. As soluções apresentadas para a consolidação da democracia e da paz social têm se mostrado, reiteradamente, ineficazes. A maioria do povo ainda não tem acesso a direitos elementares tais como saúde de qualidade, educação eficiente, emprego, alimentação adequada, água potável e energia eléctrica de forma contínua e saneamento básico. O grande inimigo do povo chama-se pobreza e por mais relatórios que se elaborem, tentando demonstrar o contrário, ela é o principal constrangimento para a criação de um país para todos e o maior inibidor da consolidação da coesão nacional.

41 anos de Independência e após 14 anos de paz o país continua adiado fruto da corrupção praticada sem escrúpulos e sem respeito pelo voto do povo. Assistimos todos os dias ao incremento de práticas autoritárias, ao cerceamento progressivo de direitos civis e liberdades, intolerância política, deriva securitária, afunilamento do espaço público, ausência de diálogo e do contraditório associados à excessiva concentração de poderes numa governação elitista que ignora as mais elementares expectativas do povo, que se tornou distante e arrogante desprezando os cidadãos, sobretudo os que menos têm.

Temos uma população maioritariamente pobre em todos os sentidos, uma classe média  à beira da pobreza, profissionais liberais desprezados por terem uma opinião diferente, estando inibidos de participar nas decisões  que a todos dizem respeito. A diversificação não aconteceu, a maioria das empresas públicas estão na falência, os projectos da reconstrução nacional foram uma triste mentira pela falta de qualidade e a agricultura foi substituída por uns pseudo fazendeiros, que apenas fazem “turismo agrário”, sendo  proprietários de extensas áreas rurais, muitas delas à custa do esbulho das terras dos camponeses. A indústria transformadora é apenas um sonho, as grandes obras de construção são feitas com recurso à mão-de-obra estrangeira, melhor paga que a nacional.
A elite dominante tornou-se insaciável, embriagada pelos anos de total impunidade onde a promiscuidade entre a coisa pública e o interesse privado passou a ser regra capaz de fazer nascer muitos milionários que, fruto de práticas predadoras, inviabilizaram o tecido produtivo pelo privilégio das importações colocando Angola numa dependência crónica do exterior e num lastimoso estado de subdesenvolvimento. A profundidade das desigualdades sociais que não encontra nenhuma solução credível que se apresente como garantia para uma mudança estrutural é a grande prova de que é urgente reconstruir o Estado Social de Direito.

É nesta  certeza que assentam as motivações deste grupo  que se constituiu como comissão preparatória para a criação de uma plataforma social e cívica alargada e endereça um convite público para apelar à sua participação, com vista a criar um espaço de intervenção dos cidadãos que permita identificar todos os constrangimentos que inibem o cabal exercício da cidadania e reagir para os dirimir.





sexta-feira, 24 de março de 2017

disto fala-se muito pouco e é importante para votarmos - 1


Londres, 24 mar (Lusa) - Angola é o país do mundo onde o custo da dívida é maior face às receitas arrecadadas, de acordo com os cálculos da Organização Não Governamental 'Campanha pelo Jubileu da Dívida' (JDC), que também coloca Moçambique na lista.

De acordo com uma análise feita por esta ONG à dívida pública de 122 países, Angola é o país onde pagar os custos da dívida mais representa em proporção das receitas, com 44% das entradas nos cofres públicos a saírem para suportar o fardo da dívida.

"Começou uma nova crise da dívida no sul global", comentou o economista da JDC Tim Jones, sublinhando que "em países onde as crises da dívida surgiram, o perigo é que o FMI e outros ajudem estes credores irresponsáveis, aumentando o fardo da dívida e levando a anos de estagnação económica, como na Grécia".

Segundo os dados, a lista dos países onde servir a dívida mais representa em função das receitas é liderada por Angola, com 44%, seguido do Líbano, com 42%, e Moçambique aparece em 13º lugar, com 20,2% a serem 'comidas' pela dívida.

Angola e Moçambique enfrentam graves crises financeiras e económicas decorrentes da queda do preço das matérias-primas, nomeadamente o petróleo e o gás, e pela forte dependência destes materiais para o equilíbrio das contas públicas.

Segundo a JDC, desde meados de 2014, altura em que o petróleo caiu de preço, a moeda angolana desvalorizou-se 56% face ao dólar, e o metical moçambicano caiu 36% face à principal moeda mundial, o que contribuiu para tornar insustentável o peso da dívida pública neste país, que várias consultoras estimam estar acima dos 100% do PIB.

Angola tem feito emissões regulares de dívida pública no mercado nacional, depois de em 2015 ter feito uma emissão de dívida internacional no valor de 1,5 mil milhões de dólares, com uma taxa de juro anual próxima dos 10%.

Desde o início deste ano, que na prática só arrancou na segunda quinzena de fevereiro, Angola já colocou 266,4 mil milhões de kwanzas (mais de 1.490 milhões de euros) em bilhetes e obrigações do Tesouro.

Angola vive desde finais de 2014 uma crise financeira e económica e no Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2017 as receitas fiscais só deverão cobrir 49,6% das necessidades totais, acrescido das receitas patrimoniais, com 6,7%, de acordo com o mesmo documento.

As receitas provenientes do endividamento público deverão atingir um peso de 43,6% do valor global inscrito no Orçamento, chegando a 3,224 biliões de kwanzas (18,2 mil milhões de euros).

Além de contrair nova despesa pública, no mercado interno e externo, o OGE de 2017 prevê 2,338 biliões de kwanzas (12,8 mil milhões de euros) para o serviço da dívida este ano.

Nas contas do Governo está inscrito um défice orçamental de 5,8% do PIB em 2017, no valor de 1,139 biliões de kwanzas (6,4 mil milhões de euros).


MBA (PVJ) // PJA

Lusa/Fim