Já durante as eleições de 2008 houve políticos do MPLA com este tipo de discurso: lembrem-se da guerra e de como ela acabou, a paz é um bem inalienável, é portanto preciso estarmos todos unidos em torno do governo.
Agora Bento Kangamba junta-se ao coro (mais uma vez?) para dizer o mesmo. Depois de lembrar que a paz é um bem indiscutível, afirma:
“Há partidos que estão a distribuir papéis contra o Executivo, para causar confusão no seio da população, visando as eleições de 2012, por isso alerto aos camaradas a estarem mais vigilantes contra essas atitudes divisionistas”
Distribuir panfletos criticando o governo é normal numa democracia, em qualquer parte do globo. Porém, para Kangamba, é sinónimo de querer espalhar a "confusão no seio da população" e, portanto, para preservar a paz, há que estar vigilante (como no tempo do partido único), ou seja, acabar com isso logo (isso - criticar - é "divisionismo"). Só num regime totalitário, ditatorial, a distribuição de panfletos contendo críticas a um governo pode ver-se como "divisionismo".
Numa democracia, declarações como esta constituem verdadeiras ameaças aos opositores e incitamento dos militantes à destruição dos opositores. A intolerância revela-se nas palavras e nos atos. Os discursos de vários dirigentes do MPLA mostram bem que muita gente, no 'maioritário', continua com a mentalidade do partido único e dos sistemas totalitários. A guerra começa nessa intolerância perante críticas e adversários. A paz não se faz com ameaças. As ameaças só fizeram ditaduras em todo o mundo. E a paz é inseparável da liberdade.